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Mostrando postagens de 2017

Cachorros não comem poesia.

Aqui em casa, cachorros não comem poesia. Deixe cair qualquer conta, qualquer lista enorme de coisas dispensáveis de se comprar no mercado, qualquer bilhete de cobranças, ele vai lá e tritura, sem engolir. Tritura tudo miudinho e espalha pela sala toda, depois senta e me olha como quem rir de uma piada. -"é isto aqui que você julga importante? ha, ha, ha, pois agora não resta mais nada, nada importa" Outro dia achei uma poesia antiga e deixei em cima da mesa, o vento levou ao chão e lá ficou por um tempo. Quando acordo, está ele deitadinho olhando para o papel intacto como quem pede: -"lê para mim" *Estava frio, você me beijou. Existia uma urgência no beijo, no abraço. Lembro de pensar que eu queria você me beijando com mais calma, como se tivéssemos todo tempo do mundo.* Após a leitura, pensei que poesia é feita por trouxas, para trouxas num disfarce sublime para cenas mundanas da vida cotidiana. Mas o cachorro voltou a deitar pensativo, era isso que im...

Nona sinfonia - Ode a alegria.

Há uma ano atrás, aproximadamente, logo após os festejos de são joão, me libertei. Sedenta de vida, como quem foge ainda com os grilhões nos punhos e tornozelos, procurei um canto e continuei a me comportar como uma prisioneira. Aos poucos alguns encontros foram me conduzindo ao meu espaço de liberdade. Provei a luz do sol, provei o voo para o outro lado do oceano, provei o seu, e o teu beijo. Livre. Livre? os grilhões pesavam, limita o movimento, contaminavam ainda o ar, com o cheiro tão conhecido de ferrugem.  Eu mudei de forma algumas vezes, e um ano depois, após os festejos de são joão, levei meus grilhões para o alto de um morro, na chapada diamantina, era tão maravilhoso, que eu queria voar. Veja bem, voar, não mais pular. Apesar do peso no peito o desejo de morte tinha ido embora. Voltei para casa, não sei se a caminhada, o suor, ou a aflição infecionaram minhas correntes e me recolhi, me anestesiei, me escondi de novo...e foi definhando....inflamada...indo...indo.....

O nosso.

o mundo tem sido o mesmo e tem mudado tanto, que nem sei por onde começar. Me reencontrei há pouco mais de um ano e já entendi que não vai ser possível voltar para o estado de anestesia cativa. Já entendi que as feras estão soltas e uma delas sou eu. Estou com saudades da beira do mar e sei que basta passar pela porta. Do meu jeito eu preciso te contar o esforço que fiz para te perdoar, preciso confidenciar, que estou em processo. Preciso alertar que estou em luta, para que nenhuma outra, tenha que perdoar mais ninguém, por crimes como esses. Crimes. Crimes, tão difícil admitir. Mesmo prescrito, não deixa de ser o que foi. Cada vez mais cíclica. Cada vez mais linda. Cada vez mais feliz. Grande parte do medo por não saber, não faz mais sentido. O que sobra, diluo num chá. Já não transbordo como antes, nem escorro, nem derramo. Fluir tem feito mais sentido. O meu e o seu, tem sido melhor quando nosso.

Ainda?

Não tenho nada. A falar pelos cotovelos, distraindo você, do que trago comigo. Tenho uma marca de ferro quente invisível, por debaixo da pele. Já não me dói. Eu mesma já não vejo, nem sinto. Apenas sei que ela, está, ou esteve ali, um dia. Passei um tempo imóvel, tentando fingir, que não existia, ou não doía, ou nunca havia sido talhada. Passei alguns anos, torta, acreditando que se eu me mexesse muito, a marca inflamaria, abriria toda, me rasgando ao meio e TODO MUNDO ia saber. Depois, veio o tempo, a vida, o mundo e tudo.....e uma ou outra pessoa, foi me mostrando, que tudo bem, que eu podia desentortar, que nada ia abrir de novo. que seja, estou bem melhor agora. Não há mais nada. Então porque as vezes, ainda sou tomada, por um medo irracional, por uma dor, como se ela estivesse sendo feita no instante em que penso. Mesmo que por um segundo. Por que ainda? Não tenho nada.

Lentamente...

Lentamente.... Hortelã... uma praia distante, um menina senhora, contando segredos... uma lua cheia na madrugada... um olhar vazio, e uma cabeça cheia, derramando lagrimas sobre a rotina. Tudo vai passar. .. lentamente minha estrutura já não volta para lugar, a carne colorida está se "metamorfoseando". Ela já não cabe mais no corpo que tem, ela já não vê apenas no que está posto. o que está rígido quer dançar.... O sangue craquela, incha, mas não escorre. Para onde foi a fluidez? Para onde foi ? Fui? é amanhã. Como ?

Um conto verde.

O terreno estava pronto, a semente já estava sob a terra e por algum motivo misterioso não consegui germinar.  Próximo de onde ela estava se revirando a decisão de brotar, era possível sentir a vibração de raízes profundas, antigas e fortes. Quem observa de cima, não desconfiava que ali embaixo tinha uma sementinha com crise de identidade. Tudo que era possível enxergar era uma árvore frondosa, uma força da natureza por existência. O tronco era de uma madeira nobre, seu cascalho apresentava algumas marcas e era forte, muito mais forte do que aparentava ser. Sua copa agora no outono revelava tons doces de marrom, amarelo e vermelho, inspirando uma sensação de calor, diante do vento frio que chegava.  Embaixo dela, era possível sentir se seguro, um lugar para fechar os olhos por alguns minutos e refletir sobre os próximos passos. Era linda, plena, se fundia com o cenário que lhe cerca e certamente se não estivesse ali, aquele campo seria apenas mais um, insosso e indiferent...

Sobre nós e nós.

Um beijo e um abraço antes de sair, um "bom trabalho", um até mais tarde. Um "vamos ali comer uma torta" ou um "vá pegar suas roupas passadas" Uma presença constante, um apoio, um chá, um suco de manhã, com gengibre demais. "Um me empresta um batom?", ou "um onde está minha blusa?" Converse com seu irmão, o que vamos fazer no feriado?.... São quase 30 anos, (28 para ser exata) de convivência, uns 18 de educação, cuidado, e uns 10 anos de parceria. Já tive pavor de me tornar como você, já te achei chata. Já precisei, já chorei, já abracei, já contei minhas peripécias. Já tomei bronca...já dividimos conselhos, alegrias, frustrações. Já viajamos juntas...já me preocupei por te deixar sozinha, já fui a Roma, pensando que bobagem fiz, em não ter te chamado para vir comigo. Está chegando a hora de se re-inventar novamente. Do ritmo, da convivência, da vida mudar. Confesso, que estive ansiosa por isso, mas como eu odeio ter que m...

Para todas nós.

Tudo que eu sei até agora, tem relevado que o caminhar, começa agora. Um caderninho e um compilado de receitinhas sobre a vida. Já tinha até esquecido, por que mesmo comecei a seguir nesta direção.... Era para conectar, era para viver e aprender o sabor da experiências...e essa dor e delicia de ser, do lugar privilegiado que estou, ora era certeza, ora esquecimento..para que mesmo quero me conectar com  tudo isso que sou? Esse conhecimento, se encerra em mim? e na MINHA felicidade, no MEU amor? Não faz sentido, querer se conectar com o todo, apenas para mim. Por que o todo, por que todas nós, somos muito diferentes e a luta delas é minha, o privilégio meu, deveria ser nosso. Percorrer esse caminho de me conhecer é o que precede a luta. Estar em paz e harmonia com o mundo, é o que vem depois de libertar e construir escolhas, autonomia e possibilidades, para todas nós.

Juventude.

Reflexões sobre o que foi visto hoje em sala: Estão ansiosos, pelas possibilidades de futuro, agora é hora de devorar o mundo e querem fazer isso sem mastigar. O prato de agora não satisfaz, é preciso estocar a comida de amanhã e queimar tudo assim que acabar o expediente. Muito cedo para decidir, muito tarde para sonhar. É imperativo produzir,  dispensável pensar.

Eu acredito, acredito.

Eu vi e vivi, história no mármore, eternizada diante dos olhos. Eu engoli o ar frio, e senti meu coração tremer sozinho. Eu amei existir e me re-apaixonei pela vida. De novo. Como em todo novo ano. Senti a certeza a minha morte e foi tão bom. A sensação livre que a consciência da impermanência  no mundo, possibilita para gente. Só é real, aquilo que você vive exatamente agora. E x a t a m e n t e. Eu não aceito mais, só porque me é oferecido. Não aceito mais as migalhas dadas de bom coração hoje, só porque pode ser que eu não tenha pão amanhã. Nunca passei fome, e o futuro é um risco. Sei disso. Mas quando a vida oferecer o melhor, eu vou degustar e aproveitar o privilégio disso. Olhando para os lados, procurando ferramentas, para que todos possam degustar comigo. Não ofereço mais sacrifícios, meu corpo já oferece sangue ao mundo. Ofereço o que há de melhor em mim, ofereço a humildade de saber que sou apenas diferente, nem melhor, nem pior. Não abaixo a cabeça, só ...