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Mostrando postagens de agosto, 2016

Felicidade Anônima.

Eu vi! Eu vi, um sorriso escondido nos 30 segundos vermelhos, em frente ao Shopping Center. Um sorriso que quase nasceu, e antes de ganhar o mundo, mergulhou no pensamento de algum momento que não vou saber nem, sequer se existiu. Um quase vislumbre da felicidade anônima de um dia cinzento na cidade do sol. Entre cabelos grisalhos, pés machucados, saltos surrados, mochilas pesadas, pernas cansadas, entre olhares e passos sem rosto da rotina de trabalho em Salvador, um sorriso nascia e saltava num triplo mortal para dentro do esquecimento... Olhei para os lados, na esperança de mais um cúmplice, tivesse presenciado o crime. No carro prata ao lado, alguém gesticulava enforcado no fio invisível do telefone móvel, do outro lado, no carro importado um vazio fumê me acenava de volta. Estava sozinha, mas não sabia se era testemunha única do ocorrido. E da embriagues temporária, fui retirada por uma buzina impaciente. Imprudentemente acelerei e após duas trocas de faixa e uma v...

Minha cama.

É quando nos entregamos aos sonhos, duas vidas vulneráveis, uma ao lado da outra. Dormindo, ora abraçados, ora encolhidos entre os dois mundos juntos e sozinhos. É uma imagem forte, é entrega, é carinho. É deixar gostar de dentro para fora. É estranho. Refúgio, abrigo, não sei se permaneço. É que quando você adormece, posso olhar-te em silêncio e imaginar histórias, onde não há medos, nem anseios, nem barreiras, onde eu grito o que quero, para todos ouvirem e não faz diferença. e ao acordar pela manhã, desejamos que nosso dia seja bom, partilhamos uma rodada de café, sem mais. é indecente viver esse lampejo, desse jeito. Levante daqui, já, sem demora! ponha -se daqui para fora. Não ouse dormir ao meu lado, não queres devorar o mundo? A pois, assuma e suma. Depois do acesso de fúria, fui mexer onde não devia, e vi então, palavras de amor, escritas por ti, para outro coração, de um tempo que o amor um pelo outro, era vivido. Me senti, com numa abordagem policial, destas vis...

Hábito.

Diálogo. é um exercício duro. No momento que abro para o outro o que penso, o que sinto, o que espero. Ação e reação é o hábito esperado. Ação, consciência, reflexão e nova ação. Isso exige tempo, prática, determinação. Por que fazer esse esforço?  Por quem fazer entrar neste movimento? Eu falo, corro risco.  Arrisco caminhar na direção oposto ao desejo. Eu calo, esvazio a realidade de verdade. Torno frágil o vínculo. Tenho uma penca de vínculos frágeis. Não preciso de mais um.

Semana nana.

Me solte, me largue, me deixe, me abrace. Vire as costas e saia correndo, sem olhar para trás, com o risco de virar estátua de sal. Estou tentando te dizer que vá embora (Pega na minha mão) Estou querendo te dizer que me esqueça (Alinha os olhos, nos meus) Amo as minhas mulheres, que me lembram quem sou o tempo todo. Segunda começou leve e melancólica. Terça já me furtou alguns sorrisos e um olhar perplexo. Quarta me deixou desconfiada, fujam para as montanhas! Gritei aos meus sentidos. Quinta estava exausta, dessa força sem sentido de manter tudo que está fora, fora, de conter o que está dentro, sem se espalhar por toda sala. Sexta ainda não sei. A rotina , depois da viagem , deixou de ser mala , virou roupa leve , que adere a calma .

Me espere voltar para casa, ou não.

Me espere voltar para casa, ou não. Cerrou os dentes no lábio inferior, determinada a não transbordar. Não ali, não naquele momento. Do avesso e nua. Quando sentou a primeira vez, ao primeiro gole de cerveja preta, estava do avesso. E com o passar dos dias, foi se despindo, sem jeito, as roupas e o ser. Abra seus olhos. Estamos do mesmo lado, em planetas diferentes. A porta, que nunca abria, estava escancarada. Ao olhar através dela, fazia cócegas em mim. Veja bem, chegamos tão perto, cegos. Entreaberta...se fosse o que você queria.

Carinho.

Carinho. É tão bom ter carinho consigo. Ler pausadamente as entrelinhas de cada gesto próprio. Perceber cada célula do seu corpo, vibrando num sentimento vívido do momento presente. É tão bom, ser honesta com você mesma. Anotar mentalmente o que te traz alegria, sem pretensão de ser feliz, ou de ter prazer, ou se nunca errar, ou de ser perfeita. Apenas com a intenção de ser. O que me traz alegria? Responder a esta pergunta de hora em hora, tranquilamente, com maturidade de se questionar, por que está agindo, ou está numa determinada situação, se ela não traz alegria para você.

Mergulho.

Fluído. De frente para o mar durante horas, ele vai e volta num movimento interrupto e eterno. O que há de mais antigo, desde que o mundo é mundo é o mar. Se você entrar nele, banhar-se nele, como quem boia e por um minuto, silenciar sua mente...vai ouvir a musica da existência. Nenhum poesia, por mais bela que seja, consegue descrever essa sensação com a profundidade que ela tem. O mar é o mesmo sempre, e também nunca, nem por uma fração de segundo está do mesmo jeito. Passei horas, olhando o mar. Passarei horas olhando o mar. Antes esperava respostas, depois brinquei de tentar suspende-lo com a força do meu pensamento, me concentrei nisso, com toda a vontade do meu ser. Para ser sincera, tenho a impressão de que levantei algumas ondas, para ser honesta, tenho certeza de que não foi feita a minha vontade. Sofro de um amor incurável, que me faz ver um mundo verde. Sofro de um medo incurável, que me faz defensiva aos vínculos. Eu mergulharia, sem ver o fundo, mas não gostaria ...

Sonho em processo.

A água do rio era turva e gelada. O sol atravessava a água e denunciava que existia mais para ver, ela já apalpava o fundo com os pés, só não tinha coragem de olhar. Uma criança pequena na margem chorava e resmungava que a moça tinha ganhado aqueles óculos para ver o fundo do rio, e ela não. Ela arriscava alguns mergulhos, mas tinha uma dificuldade enorme de abrir os olhos. Quando piscava, via algas, via musgo, via gravetos, via peixes e sombras. Tinha medo do que poderia ver. Muito medo. O tempo passou, ela saiu da água, a perna doía, se arrastou até a margem. Tinha cravadas no joelho, três unhas, de dentro para fora, feias, grossas, saiam sem dificuldade quando puxadas, deixando a pele aberta em pus.