Sobre enxergar.

A pele negra brilhava no sol de meio dia. De cabelos brancos e rosto marcado pela insanidade ele caminhava torto em minha frente.
O cheiro era ruim, as roupas estavam sujas e surradas, sua casa e sua cama deveria ser o asfalto da cidade.

Ele flertou com uma jovem, olhou para ela, em seu shortinho jeans, e assoviou. A outra mais na frente ele balbuciou algo como "minha linda". Recebeu em troca, um olhar de nojo, outro de desprezo. Os demais ignoravam-o completamente.

"Ai meu deus! Ele não se enxerga não é?" Indagou alguém.

Se enxerga sim, pensei eu. Se vê pelo menos como homem, e suas "necessidades masculinas", e talvez fosse melhor para nós enxerga-lo também. Suportaríamos as respostas ásperas às nossas investidas? Suportaríamos os olhares cegos a nossa existência?

Se quando "ele" não liga no dia seguinte, já ficamos angustiadas, imagina um dia, sem ser vista, como gente. Como ficaria nossos corações?

Abra os olhos, por que o outro é um espelho.

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