O que eu não falarei.

O tom da linha num minuto, o tum do meu coração no outro e finalmente você atendeu.

O milésimo de segundo seguinte quando você disse "alô", na minha cabeça passou absolutamente tudo. Tudo que eu deveria ter não dito, tudo que eu disse, tudo que eu nunca vou dizer.

Sinceramente, antes mesmo de ligar eu já sabia que não tinha sentido e que não faria diferença, eu sabia que você não quer nem mais ouvir minha voz, que seria um grande favor esquecer aquela pergunta despretensiosa no elevador, perguntando se eu estava bem.

Esquecer aquele copo com sal na borda, aquele elogio mal intencionado no pé do ouvido, aquela afirmação direta que fez você ficar sem graça.

Seria um grande favor, esquecer aquele medo que sentimos num chalé qualquer, quando você precisava ser o valentão, mas também estava tremendo. Ou aquele dia que me abraçou sem entender por que eu soluçava como se sofresse as dores do mundo.

Agir como se nunca, nunca tivesse me rodopiado e me beijado ao por do sol, e eu sem graça por que passara  o dia anterior inteiro pensando em como seria.

Até hoje pinço da alma, os pedacinhos venenosos das mágoas que provoquei. Até hoje engasgo sozinha, com a tristeza que te dei.

Por gentileza, ponha se para fora, do quartinho obscuro que ainda ocupa na minha mente.

Sua indiferença, acho que vou aceitar de presente.

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