o Show

Dono, do bar, abriu um sorriso quando a primeira cliente chegou. Uns minutos antes e ela teria chegado com ele ainda destrancando a porta, pensou consigo.
- Boa noite querido, quanto tempo demora o pedido mesmo? Você acha que os outros vão demorar a chegar? Hoje esta saindo aquela roska de morango não é?- Ansiedade era assim, se atropelava nas perguntas, Dono estava estranhando ela ter chegado sozinha, volta e meia ela aparecia junto com Impaciência ou vivia para cima e para baixo com a Pressa.
- Senhorita Pressa não vem hoje minha jovem?- Dono perguntou displicente, tinha medo de ela dar um chilique ao perceber a ausência da amiga.
-Seu Dono! Querido eu soube que a Pressa sofreu um gravíssimo acidente, foi atropelada imagine! Olá Ansi! Menina me conte tudo da sua ultima crise, eu soube que você teve que tomar remédio tarja preta? A que ponto chegou hein?- Fofoca não sabia ser discreta, era incomum ela chegar tão cedo, a noite prometia, pensou Dono.
-Ora Foca, largue de exagero, eu já liguei pra Pressinha, tadinha, quase foi atropelada, QUASE. Ela deve esta chegando.
Ansiedade, Ansi com era chamada pelos amigos, era uma jovem estranha. Olhando de longe, não poderíamos dizer se ela era elétrica ou nervosa, se era ágil ou afobada, eventualmente reclamava de dores nos músculos e não parava quieta de jeito nenhum. Há anos ela mantinha uma amizade próxima com Pressa e o Estresse, esses namoravam há algum tempo, mas só nos últimos anos é que o relacionamento ficou mais sério, moravam juntos agora. Pressa era mais velha que Estresse, conheceram-se através de Ansi, numa dessas reuniões patéticas na casa de Deprê. Depressão Leve Moderada Aguda Terceira era como ela insistia em lembrar, quando tinha ânimo. Ansi pensava na prima, quando o casal chegou na companhia do irmão mais novo de Pressinha, Atraso.
-Ansi amor tudo bem? Já fez o pedido? Anda Atraso! Que menino lerdo, eu sinceramente não sei a quem ele puxou!- Pressa sentou antes que Estresse demonstrasse algum cavalheirismo, ele não era dado a gentilezas era o que ela vivia comentando. Fofoca deu um jeito de sentar perto dela para saber como ia o relacionamento, mas logo perdeu a paciência, a dita cuja parecia nem respirar entre uma frase e outra. A conversa rolava animada regada a alguns drinks, Ansi ria a toa depois da terceira Roska, mas não deixava de conferir a entrada.
- Esperando alguém Ansi?- indagou Foca animada, já não agüentava mais tentar entender Pressa e Estresse não era nem de longe interessante.
– Hã? Eu? Na verdade... Olha lá quem chegou! Ô Ilusão, aqui a gente!- Ansi deu um pulo da cadeira e correu até Ilusão. – Calma querida tem para todas! Eu trouxe o que me pediu, deixa só eu separar a parte da minha amiga aqui. – Ilusão era um cara descolado, suas roupas extravagantes e colorida sugeria dúvidas a cerco do seu sexo, muitas vezes era confundido com uma mulher, Foca numa festa dessas bebeu demais e sai espalhando que Ilu era um transexual, mas nada foi confirmado.
- Qual é a boa da vez Ilu?- perguntou Foca casualmente.
- Galera eu trouxe Rivotril e Prozac, quem vai querer?- Pressa já se levantara para ir ao banheiro quando Ilusão ofereceu as novidades, Ansi quase pula na frente de Estresse para pegar os comprimidos, a amiga misteriosa de Ilu pegou uns também, Atraso quando percebeu o que estava rolando as balinhas tinham acabado. – Ansi sua louca, nem pense nisso, vai misturar isso com álcool? Fica relaxada ai, tome mais umas roskas, amanhã você toma os seus. Que agonia viu?- Ilusão era de caráter duvidoso, mas não era bobo, não queria ter que abandonar no evento para levar Ansi no hospital. A amiga de Ilu sentou quietinha e lá ficou bebericando uma taça de vinho, quando Foca perguntou quem era ela, Ilu riu e disse que era uma velha conhecida.
Dono não cabia em si de felicidade, o grupinho que mais bebia era o de Ansi, a casa estava cheia, logo iria começar o prometido show e os ingressos estavam esgotando maravilhosamente. Do balcão Dono observava todos no bar, os clientes cada um com sua peculiaridade eram divertidos de se observar, para ele o que interessava mesmo eram os lucros, os problemas de cada um definitivamente não eram da sua conta. Devaneava sobre em quanto fecharia o caixão, quando avistou a insistente mãozinha da Gravidez. Sentada desajeitada na mesa de um bando de adolescentes, ela estava cansada e irritada.
- Senhora Gravidez, não esperava que viesse hoje, já esta tão perto da grande hora não é mesmo?- Dono tentou amenizar a situação enquanto anotava o pedido, suco de maça com menta.
- Seu Dono! Estou meio triste, meu marido ainda não chegou, fiquei aqui sentada com essas meninas, mas elas só falam em garotos, roupas e show. Eu não agüento mais esse papo, tenho tantas coisas ainda para providenciar- lamentou-se quase aos prantos.
- calma querida venha comigo, Dona Maternidade e Senhora Estabilidade Financeira estão sentadas perto da fonte, já perguntaram por você umas três vezes, se eu a tivesse visto antes! Venha, sou lhe mostrar o caminho.
- Já vai tarde indesejada!-vaiou uma adolescente mal educada.
O Amor sentara sozinho na mesa em frente ao palco, observou Gravidez passar, pensava o que seria desta criança que estava por nascer, afinal ele costumava ser convidado quando um casal se casava. Deste casamento, só tinha visto as fotos no álbum de colecionador das Irmãs, Comodidade e Insegurança. Na outra ponta do palco, Paixão estava de olhinhos brilhando, vidrada em Amor. Sentados separados a pedido dele, ela desconfiava que só pararia de admira-lo quando o show começasse. Paixão não entendia muito bem Amor, mas tinha convicção de que o amava. Andavam juntos grande parte do tempo, ela o venerava como uma estudante, encantada com um professor, sempre que investia inconseqüentemente tentando roubar-lhe um beijo, Amor carinhosamente a impedia, afirmado que ele já era um velho, que as coisas não são assim, para ela ser paciente. Enquanto essa relação permanecia indefinida, Paixão passeava pelas boêmias noites, envolvendo-se com rapazes, justamente por essas aventuras que ela e Ética não se davam muito bem, Paixão não se incomodava se os homens que se envolviam eram solteiros, casados, novos ou velhos, muito menos se eram homens, poderiam ser mulheres, o que Ética não se conformava era a falta de respeito que Paixão costumava ter com idosa Família, foram o fato dela quase sempre arrastar Escolha nessas situações, para depois a própria Escolha vir toda arrependida alegando que a culpa não fora dela, ela jamais teria ido se não fosse Paixão. Escolha gostava de Ética, mas o namoro das duas era muito instável, as brigas mais homéricas eram quando Escolha dizia que a culpa não era dela. Nossa isso deixava Ética fora de si de tanta raiva.
Ética contava uma piada para Disciplina, quando Dedicação voltou trazendo suco de manga para todas, Escolha que enquanto era segurada por Ética pela mão, olhava furtivamente para Paixão, protestou dizendo que ia querer uma marguerita, detestava suco de manga.

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